quinta-feira, 7 de abril de 2011

Primeiro registro de intoxicação por cosmético


O primeiro registro de acidente grave com uso de produto cosmético foi aquele que ocorreu na França, na década de 1950, com o uso de talco infantil contendo o anti-séptico hexaclorofeno, cuja concentração (dez vezes superior ao valor normal) , por erro na fabricação em determinado lote, resultou na morte de dezenas de crianças!

O hexaclorofeno é um agente antimicrobiano introduzido pela indústria farmacêutica, em 1948, em preparações líquidas e em pós. Subseqüentemente, foi utilizado como anti-séptico tópico. Nos anos 1970, estudos em crianças demonstraram que causa encefalopatia por absorção transdérmica. Estudos mais recentes sugerem também potencial teratogênico. No Japão, foram banidas as preparações farmacêuticas, em pó, desde que edema de cérebro foi observado em animais. Vários outros países baniram esta substância ou restringiram seu uso. No Brasil, a RDC 48/06, da Anvisa, proibiu o uso do hexaclorofeno em produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes.
Nas últimas décadas, muitos outros ingredientes foram banidos das listas positivas de cosméticos em todo o mundo. Além do hexaclorofeno, compostos de mercúrio e halogenados, propelente clorofluorcarbono, e ingredientes geradores de nitrosaminas foram banidos na década de 1970.
Ao longo do tempo, a classe dos corantes tem sido alvo dos questionamentos de sua segurança. Entretanto, nessa classe de ingredientes, os fabricantes têm optado por retirar do mercado sempre que haja suspeitas, já que os altos custos para provar a sua segurança nem sempre justificam economicamente a permanência no mercado.
Felizmente, hoje, a indústria dispõe de outros recursos para desenvolver e introduzir novas moléculas no mercado. O processo de pesquisa e desenvolvimento de novas matérias-primas se vale de planejamento toxicológico que utiliza vasto banco de
dados de ingredientes com o histórico de sua ação ao longo do tempo nos organismos vivos.
Embora não seja a unanimidade, pode-se afirmar que os cosméticos são produtos seguros quando utilizados de maneira adequada e seguindo as recomendações do fabricante. As reações adversas com esses produtos não são freqüentes, e, quando ocorrem, na maioria dos casos, é devido ao uso de forma inadequada ou à acidente. Recentemente, foram divulgadas as ocorrências com o uso irregular do formaldeído em escova progressiva para alisamento de cabelo. Há alguns dias, os jornais noticiaram acidente com shampoo no qual o usuário adicionou um praguicida para combater piolho.
Os cosméticos são formulados utilizando ingredientes apropriados de alto perfil de segurança e em níveis de concentração adequada. Muito desses ingredientes foram, de início, introduzidos para uso na indústria farmacêutica e posteriormente para cosméticos.
A confiança que hoje se pode depositar nos cosméticos, em grande parte, é devido aos notáveis avanços ocorridos na Toxicologia, que tem parametrizado a evolução da indústria cosmética em todo o mundo, garantindo produtos seguros e afastando a hipótese de repetição do lamentável caso do hexaclorofeno.

Cosmetics & Toiletries (Brasil)              
Vol. 20 mar-abr 2008

(Publicado por: João Paulo Cantele)




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